52
Super-homem na vida real?
Super-homem na vida real?
A metodologia DISC estabelece 3 tipos de perfis
comportamentais especiais. Um deles é chamado de
super-homem, e não há nada mais contemporâneo do
que esse tipo de comportamento.
O filósofo sul-coreano Han, em seu livro Sociedade
do Cansaço, aborda a relação homem-sociedade na
atualidade. Diferente do que foi vivenciado no século
XX, onde tínhamos um ambiente bem estruturado e
com definições claras, hoje vivemos na adversidade.
Temos uma infinidade de estímulos e criamos a
certeza de que temos respostas para todos eles. Criou-
se um padrão de sucesso inatingível, em todas as
áreas da vida, e passou-se a valorizar a produtividade
exacerbada do profissional multitarefas. Os indivíduos
foram colocados diante do imperativo da positividade:
“Eu posso tudo, de forma ilimitada.”
Dentro da Comunicação, área diretamente atingida
pela disrupção tecnológica, este cenário é sentido bem
de perto. Competências que antes não existiam estão
sendo demandadas. Como apresentado pela pesquisa
anual “Tendências Globais de Capital Humano
2019”, realizada pela Deloitte, 86% dos entrevistados
afirmam que precisam reinventar sua capacidade
de aprender e 84% dizem ser necessário repensar a
experiência sobre o seu capital humano. Segundo o
estudo, alguns aspectos demandados pelo mercado
são o desenvolvimento de habilidades voltadas a
ambientes ambíguos, de mudanças rápidas e que
gerem engajamento de stakeholders e a promoção da
interseção entre o tradicional e novo.
Isto fica muito claro quando trabalhamos em conjunto
com os executivos das organizações no momento de
construirmos o perfil comportamental do profissional
que desejam para ocupar determinada posição. Muitas
vezes, o perfil desenhado é o de um super-homem:
um profissional que possui todos os 4 fatores DISC
altamente desenvolvidos. Dentro da metodologia,
chamamos este perfil de
overshift
.
Na Pesquisa Talento Brasileiro da Comunicação,
considerando a maneira como os participantes
se adaptam ao contexto no qual estão inseridos,
identificamos que 0,16% apresenta esse tipo de perfil.
Isto significa que esses indivíduos demonstram-se,
simultaneamente, Dominantes, Influentes, Estáveis
e Conformes.
Eles tomam para si diferentes
atividades, assumindo a responsabilidade
sobre muitas frentes. É um comportamento
que não se mantém por muito tempo, pois
exige esforço demasiado.
Não à toa, é notório o
crescimento de doenças ocasionadas pelo estresse,
tais como crises de ansiedade, ataques de pânico
e síndrome de
burnout
. A ideia de que existe um
super-homem é fantasiosa. Cada ser humano é
singular e prioriza determinados comportamentos
em detrimento de outros. Ao expormos isto para
as organizações, notamos frequentemente que
há uma certa surpresa. O que ocorre é que, além
de pontuarem as características de determinada
atribuição, os executivos tendem a projetar os
próprios comportamentos na arquitetura de perfil do
cargo. Quando recebem a informação de que estão
requerendo algo que não é real, sobre-humano,
normalmente vemos acontecer um ponto de inflexão.
Há uma tomada de consciência e a busca, a partir daí,
de algo mais humanizado. Ficam sensibilizados quanto
à importância da gestão comportamental, provocando
uma mudança de mentalidade.
Sabemos que o mercado atual exige que diferentes
perfis de talentos sejam exercidos de forma
concomitante. No entanto, a maneira de se
solucionar isto está na busca da complementaridade
e equilíbrio entre os colaboradores. O super-homem
só existe nas telas de cinema.